Contribuições de Jean Piaget

Jean Piaget (1896-1980) era biólogo, mas interessou-se por questões pedagógicas e pela aprendizagem porque as circunstâncias assim o fizeram: houve momentos em sua vida que necessitou escrever ensaios sobre educação e precisou estudar a epistemologia da aprendizagem “ao ser contestado por críticos da corrente behaviorista” (MORO, 2007: 118).

MORO (2007: 120) aponta as contribuições da teoria de Piaget nesta área do conhecimento como:

  • “construção da inteligência como critério para o estabelecimento de objetivos educacionais;
  • emprego de provas operatórias para fins diagnósticos e de avaliação do aluno;
  • escolha de noções operatórias como conteúdos dos programas escolares;
  • seleção e ordenação dos conteúdos escolares conforme sua complexidade estrutural;
  • psicogênese de conteúdos propriamente escolares;
  • construção de uma teoria da aprendizagem construtivista;
  • situações de interação social de crianças em aprendizagem”.piaget2Na área da Matemática, por exemplo, há a Psicologia da Educação Matemática, inclusive, existem muitas produções embasadas no construtivismo piagetiano. “Resultados de vários estudos sobre a psicogênese da escrita numérica apontam as peculiaridades das construções em curso desde idades precoces, dos sistemas de marcas numéricas, bem como o complexo caminho, em patamares progressivos, da compreensão das notações numéricas conforme o valor posicional” (MORO, 2007: 123).Nas Ciências Naturais, por sua vez, essa teoria contribuiu para que fosse dada mais importância ao processo ensino-aprendizagem ao “papel da experiência física e sua verificação matemática”, à “elaboração de hipóteses e sua verificação na iniciação científica de crianças” e a cooperação entre os estudantes para a aprendizagem de conceitos (MORO, 2007: 125).

    Assim, a teoria de Piaget na educação levanta a necessidade de analisar a complexidade estrutural dos conteúdos escolares e verificar as competências operatórias para a assimilação deles, além de que seja o estudante o autor da construção do conhecimento destes conteúdos.

    Outras inovações desta teoria (se comparada com o que havia até então) que valem ser citadas são com relação:

    • ao erro, que passa a ser visto não como inadequado, “mas como referência essencial à interferência do professor” (MORO, 2007: 129), e
    • à interação das crianças com seus pares, vista agora como uma situação de extrema importância para a construção cognitiva individual. Aqui, o papel do professor passa a ser de orientador, alguém que propõe desafios. “A escola deveria propiciar trabalhos em equipe como oportunidade para ocorrer a troca de pontos de vista entre os alunos, por causa da necessidade de: a) relação com o outro para ocorrer a tomada de consciência do indivíduo de si próprio; b) do distanciamento da perspectiva própria para o indivíduo alcançar algum grau de objetividade; c) de o indivíduo pensar segunda a perspectiva do outro para construir e obedecer as regras de pensamento” (MORO, 2007: 131).

    Entretanto, em educação, muitas vezes a teoria de Piaget é distorcida e/ou mal compreendida. Um problema que normalmente ocorre é com relação à aplicação desta pelos professores, como possivelmente sua experiência como estudante foi numa proposta tradicional de ensino, é difícil para ele “compreender o processo construtivo do conhecimento de seus alunos em qualquer área, e acompanhar e intervir nesse processo, se ele próprio não fez essas construções” (MORO, 2007: 136).

     

    Referência bibliográfica:

    MORO, M.L.F. Implicações da epistemologia genética de Piaget para a educação. In: PLACCO, V.M.N.S. (org.) Psicologia & Educação: revendo contribuições. São Paulo: FAPESP/EDUCA, 2007, p. 117-144.