Alfabetização de jovens e adultos

HISTÓRICO

Imagem retirada de: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/fd/Painel.Paulo.Freire.JPG
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O problema do analfabetismo não é exclusivo do Brasil. “Segundo dados da Unesco (2003), (…) 860 milhões de pessoas – um adulto em cada cinco – não sabem ler nem escrever” (Fortunati, 2007, p.95).

Diante destes dados alarmantes, inúmeras discussões foram realizadas, como o Fórum Mundial da Educação, realizado no Senegal, em 2000, que mostrou dados como a queda do número de analfabetismo de 879 milhões para 861 milhões, concluindo que “os avanços reais foram frustrantes – diversas metas foram estabelecidas e não cumpridas, e nenhum aumento significativo nos investimentos fora verificado e embora a alfabetização permaneça no centro das discussões dos educadores internacionais, nada disso resultou na colocação da alfabetização como prioridade absoluta no cenário internacional” (Fortunati, 2007, p.96).

Kunrath (2006, p. 4) cita Brandão e explica que “a educação de adultos aos poucos foi sendo aceita e, em nível institucional, a ideia corrente era de que devia ser um trabalho compensatório, barato e com objetivo básico de integrar os adultos na vida social”. Entretanto, normalmente o poder público não se preocupa com a alfabetização de jovens e adultos (Sepúlveda, 2003), investindo basicamente no ensino regular. Um exemplo disso se refere à Conferência Mundial de Educação para Todos, realizada na Tailândia, em 1990, que aponta a educação para todos, isto é, reconhece que crianças, jovens e adultos devem ter suas necessidades básicas de aprendizagem supridas, porém a meta estabelecida foi referente somente à educação primária. “No Brasil, isso reflete em números como estes: em 1990, enquanto a matrícula no ensino fundamental era de 36 milhões de alunos, havia apenas 7,7 milhões no ensino médio e apenas 2,6 milhões de pessoas recebiam educação de jovens e adultos”, o que nos leva a concluir que este tipo de educação é desestimulado, sob a justificativa de escassez de recursos, inutilidade do gasto e fracasso das ações empreendidas no passado – e, deve-se deixar claro que a educação de adultos não se restringe à alfabetização (Torres, 2001, p.32).

A educação de adultos ocorre nos mais variados locais: em ambiente escolar, instituições religiosas e até mesmo em locais de trabalho (Paim, 2005).

Na década de 1940, a população brasileira era constituída por um número muito grande de analfabetos e – porque o governo começou a se preocupar com o futuro rendimento do país – pensou-se numa educação de jovens e adultos. Assim, buscou-se metodologias educacionais em outros países, além de contar com contribuições de alguns educadores. Ainda nesta década, o então ministro da educação, Clemente Mariani, preocupou-se com a educação de camadas populares e destacou a extensão da escola gratuita aos setores operários. E, na década de 1950, houve uma maior necessidade de pessoas qualificadas trabalhando em indústrias, o que fez com que as empresas disponibilizassem oportunidades a seus funcionários para completarem sua formação. No período em que Jânio Quadros presidiu o Brasil (1956 a 1960), o governo iniciou projetos de educação de jovens e adultos, primeiramente na região Nordeste, onde se encontrava a pior situação do país, expandindo-se pouco a pouco. O próximo presidente, João Goulart (1961-1964), também se preocupou com a situação de analfabetismo por algumas razões, entre as quais estava o rendimento e, conseqüentemente, o desenvolvimento do país, além de favorecer seu mandato. Assim, buscou a união com a Igreja católica para alfabetizar em massa e ampliou o número de escolas tanto para o ensino regular quanto para o desenvolvimento dos projetos de educação de jovens e adultos. No início da década de 1960, na implantação de programas de educação de jovens e adultos, Paulo Freire propôs uma educação popular libertadora. Ao entrar o regime militar, houve um retrocesso nos avanços da alfabetização de jovens e adultos. O Governo federal, sob sua supervisão e orientação pedagógica, cria e expande o Movimento Brasileiro de Alfabetização – Mobral – no final da mesma década e vai durar até 1985 (Sepúlveda, 2003; Tritapepe, 2004).

O objetivo do Mobral era erradicar o analfabetismo no Brasil em 10 anos. Este programa recebeu muitas críticas por sua ideologia e foi julgado como de baixa qualidade e possuidor de práticas autoritárias. A formação era a mesma para professores do ensino regular e do Mobral, diferenciando apenas no material didático e a metodologia, que tinha base freireana foi distorcida (Sepúlveda, 2003). O Mobral foi substituído pela Fundação Educar, que oferecia um incentivo financeiro e técnico para instituições e organizações não governamentais. Por falta de recursos e o surgimento de uma nova concepção de jovens e adultos, essa fundação foi extinta (Tritapepe, 2004).

Com a lei 5692/71, a Educação de Jovens e Adultos foi regulamentada, chamada de ensino supletivo e é reconhecida como um direito à cidadania. Entretanto, a nova LDB (lei 9394/96) não superou a ideia de reposição do currículo voltada para a educação fundamental das crianças (Sepúlveda, 2003; Santos, 2007).

PENSANDO A PRÁTICA DOCENTE NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

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Um cuidado que se deve tomar é evitar a comparação entre a alfabetização de adultos e a de crianças, pois “as crianças estão ‘abertas para o mundo’, disponíveis para o aprendizado, sedentas de saber. Já os adultos têm sobre si uma carga enorme, que carregam com dificuldade. (…) São indivíduos que diariamente têm que lutar pela sua sobrevivência, bem como a de sua família, que estão com a autoestima abalada pela situação social em que se encontram” (Fortunati, 2007, p. 98).

Jovens e adultos possuem vivências: contato com diferenciados tipos de escrita (como rótulos e propaganda, por exemplo) e a oralidade e estas podem constituir subsídios para o início da aprendizagem de leitura e escrita. Assim, a linguagem oral pode ser aliada, se usada como mediadora de “outro processo linguístico em construção” (Souza, 2006, p. 15). Infelizmente, as experiências anteriores dos educandos não são levadas em consideração em muitos programas de alfabetização, o que torna a aprendizagem algo técnico.

Devemos também tomar cuidado com as diferenças entre a linguagem escrita e a falada, pois a primeira não é a simples transposição dos sons da segunda. “Nessa perspectiva, faz-se necessária a busca de maior compreensão da natureza do processo de alfabetização, visando especialmente chamar a atenção para a necessidade de a escola assumir a existência de tipos de língua falada e de compreender estas variações levando em conta a linguagem apresentada pelo alfabetizando, para assim introduzi-lo no mundo da escrita” (Souza, 2006, p.16).

Um problema que se depara ao falar da erradicação do analfabetismo de adultos é saber o local no qual estes se encontram, pois muitas vezes não assumem a condição de analfabetos, por diversos fatores, entre eles, a vergonha, tornando mais difícil a contemplação de auxílio (Fortunati, 2007).

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

FORTINATI, José. Gestão da educação pública. Porto Alegre: Artmed, 2007.

KUNRATH, Janis Leonicia. A formação de educadores do MOVA-SP no contexto de educação popular. [Dissertação de Mestrado] PUC-SP, 2006.

MEC – Ministério da Educação. Dados do IBGE mostram redução do analfabetismo. 14/09/2007. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=9063. Acesso: 04 nov. 2007.

PAIM, Jussara Ferreira. Há vida para além da sala de aula: um estudo sobre a identidade do aluno do EJA. [Dissertação de Mestrado] PUC-SP, 2005.

SEPÚLVEDA, Francisca Gorete Bezerra. As práticas pedagógicas das(os) alfabetizadoras(es) do programa de alfabetização solidária de Igaci, Alagoas: a ótica de uma coordenadora pedagógica setorial. [Dissertação de Mestrado] PUC-SP, 2003.

SANTOS, Carlos Daniel dos. Alfabetização de adultos. [palestra] In: Semana da Pedagogia – PUC/SP, 19 de setembro de 2007.

TORRES, Rosa Maria. Educação para todos. Porto Alegre: ArtMed, 2001.

TRITAPEPE, Daniela Di Sessa. Teorias e metodologias para a prática educativa na formação de jovens e adultos. [Trabalho de Conclusão de Curso] Unifmu, 2004.