LIDANDO COM A INCLUSÃO

Texto escrito por Iracema Cerdan Zavaleta Galves *

 

O presente texto aborda um assunto muito importante e que está cada vez mais presente nas instituições de ensino e em discussão nos meios de comunicação. A inclusão é muito discutida hoje, porque mostra que não é problema ser diferente e que a diferença enriquece e produz aprendizagens que a escola, nos moldes atuais, não proporciona. No entanto, a dita inclusão está muito longe de ser alcançada, porque para isso é necessário romper paradigmas, ou seja, assim como sugere Mantoan (2003), repensar o sentido que se está atribuindo à educação, além de atualizar nossas concepções e resignificar o processo de construção de todo o indivíduo.

O termo inclusão, infelizmente, é confundido com integração, o que faz com que muita coisa não se modifique na educação efetivamente. Na inclusão, a escola se adapta ao aluno e às suas necessidades. Já na integração ocorre o contrário, isto é, o aluno (com todas as suas necessidades, dificuldades e diferenças) deve se adaptar e se “moldar” à escola.

Existem diversas teorias que tratam o assunto, porém, sinto que estas ficam somente em âmbito teórico e não auxiliam muito a prática escolar.

reflexoes_clip_image002_0003Há muitas causas que fazem com que a inclusão se torne um problema na prática. Uma delas é a falta de estrutura nos estabelecimentos de ensino para receber as pessoas com necessidades especiais, ou seja, rampas para cadeirantes, sinalizações auditivas ou táteis para deficientes visuais, pessoas especializadas em linguagens alternativas, como braile ou libras, etc. Outra é a falta de preparo dos professores e mesmo das escolas para receber pessoas “diferentes” do padrão (entre estas pessoas podemos entender desde aquelas que têm uma deficiência física ou mental até aquelas indisciplinadas, ou mesmo sujeitos provindos de outras culturas).

O convívio de pessoas ditas normais com um portador de necessidades especiais, por exemplo, traz benefícios a todos, que Colligaris chama de progresso social. “Quando você exclui o outro, por qualquer que seja a razão, você também se exclui da companhia do outro, se exclui de aprender mais, de vivenciar. Excluir é perder.” (Colligaris) E esse tipo de educação, de inteligência, não é valorizada na sociedade e, infelizmente, nem nas instituições de ensino.

Celso Antunes, no vídeo Capacidades, habilidades e competências, expõe temas pertinentes ao processo que envolve a inclusão. Ele aborda questões como a alfabetização emocional e o desenvolvimento de competências, que nos faz refletir sobre o fato de existir habilidades que vão além daquelas que dependem da inteligência lógico matemática ou linguística.

A educação de hoje valoriza muito a parte intelectual do ser humano, esquecendo-se de outras áreas. A descoberta das múltiplas inteligências modificou um pouco esta visão, porém ainda é clara a ênfase que é dada nas escolas para disciplinas como Português e Matemática.

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A inteligência emocional, que compreende as inteligências pessoais, trabalha um pouco destes aspectos “esquecidos” pela escola. A inteligência intrapessoal, por exemplo, está relacionada com o modo como a pessoa se vê e como percebe suas potencialidades e limitações. A baixa inteligência intrapessoal faz com que o indivíduo seja desanimado consigo mesmo, enfatize suas limitações e não sinta estímulos para crescer. Já a pessoa que tem esse tipo de inteligência apresenta autoestima elevada, é mais otimista e se percebe como um ser em construção, aceitando-se e respeitando-se (Antunes, 2002).

A inteligência interpessoal, por sua vez, está relacionada com a forma que a pessoa tem de se relacionar com as outras. A pouca inteligência interpessoal faz com que ela se sinta melhor quando está sozinha, não gostando de locais com muita gente (Antunes, 2002).

A inteligência emocional, como sugere Goleman (1995), abrange algumas aptidões básicas, como:

  • conhecer as próprias emoções,
  • lidar com emoções,
  • motivar-se,
  • reconhecer emoções nos outros e,
  • lidar com relacionamentos.

Porém, não podemos nos esquecer de que essas aptidões diferem de pessoa para pessoa, ou seja, uma pode ser mais habilidosa ao confrontar outra com algum problema e não ser capaz de lidar tão bem com seus próprios sentimentos, por exemplo (Goleman, 1995).

Assim, o educador que pretende fazer com que seu trabalho dê frutos mais positivos, deve estar sempre atualizado quanto aos estudos mais recentes e buscar aplicá-los em sua prática cotidiana a fim de enriquecer o aprendizado dos estudantes, não só com o ensino de Língua Portuguesa, Matemática ou Física, mas ensinando a viver num mundo com menos discriminação e mais cidadania.

 

Referências bibliográficas:

ANTUNES, Celso. A inteligência emocional na construção do novo eu. 10ªed., Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

ANTUNES, Celso. Capacidades, habilidades e competências. Vídeo.

COLLIGARIS, Contardo. Os prejuízos da exclusão. In: Revista Educação.

GOLEMAN, Daniel. Inteligência emocional. São Paulo: Objetiva, 1995.

MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão Escolar – O que é? Por quê? Como fazer? São Paulo: Moderna, 2003.

 

* Iracema Cerdan Zavaleta Galves é psicóloga, pedagoga e mestre em Psicologia da Educação.