juntos na praia

O AMOR E SEUS COMPONENTES

Iracema Cerdan Zavaleta Galves 1

 

Todos querem amar e ser amados. A mídia, em geral, e as redes sociais, em particular, mostram o relacionamento entre casais como algo envolvendo o amor eterno, algo perfeito; mas, na vida real, passamos por diversas situações que contradizem aquilo que vemos em novelas, filmes, no Facebook ou Instagram. O que há de errado? Somos nós os errados?

A minha resposta é que os relacionamentos entre seres humanos são sempre complicados, pois existem diversos elementos que compõe cada pessoa e a maneira de se relacionar está envolvida com a personalidade e o meio em que ela vive/viveu.  Além disso, o relacionamento se torna mais difícil quando, entre outras razões, as pessoas não veem o outro como ele é, mas como gostariam que ele fosse.

Podemos dizer que cada pessoa é marcada pela sua história de vida e, consequentemente, por suas experiências com outras pessoas. Com os casais, assim como qualquer outra relação afetiva, as vivências positivas e negativas vão construindo a atividade emocional que cada um possui, o que vai refletindo nas ações futuras, seja com o mesmo parceiro, seja com outro.

Em 2001, o psicólogo espanhol García Vega escreveu que o amor é composto por 12 elementos:

Geralmente, o amor começa com uma atração mútua: a cada um dos envolvidos chamará atenção algo no outro, algo que despertará e estimulará o desejo (desejo de possuir e ser possuído).

Junta-se a isso a conveniência, que podemos entender como o interesse que se tem pelo outro – lembrando que se não há interesse não há motivação para continuar nutrindo o sentimento.

A partir daí, se criará um vínculo, união que vai sendo construída dia-a-dia; o que também acarretará na intimidade (tanto corporal quanto psíquica), isto é, o mostrar as partes ocultas de seus corpos e seus pensamentos e desejos mais profundos. Enquanto a intimidade corporal se dá através do sentir respeito e confiança no outro para se mostrar, não sentindo vergonha de seu corpo, por exemplo, a intimidade psíquica está relacionada com a capacidade de comunicar-se: escuta ativa, compreensão empática e respeito incondicional. E aí também entra a fusão, que está muito relacionada com a intimidade, pois refere-se ao desejo de entrar no mais íntimo do outro.

É também necessário que cada um dos envolvidos seja capaz de enxergar os valores do outro e possua afeto para com o parceiro, ou seja, tenha um cuidado amoroso: pequenos gestos, estímulos, que mantém o amor vivo.

Ainda é preciso existir maturidade, isto é, uma “emoção racional”, que permita que a pessoa esteja em contato com a realidade, e o compromisso, que seria o anunciar o “nós”, assumir a união perante os demais.

casamento

Outro item que compõe o amor é o projeto, que permitirá pensar, planejar, a vida com a dois. Neste ponto, cabe ressaltar a importância de ambos, mesmo que não tenham projetos de vida em comum, pelo menos, não terem planos opostos ou incompatíveis. Pois, vale lembrar aqui que, quando se apaixonam, as pessoas tendem a achar que todas as características do amado se ajustam à sua vida, mas, com o tempo, percebe-se que não é assim que acontece e essa relação dependerá do nível de ajustes que cada um faz (e está disposto a fazer) na sua vida e no planejamento de vida futura. Então, um passo grande a se dar antes de se envolver com alguém é ter  consciência de sua própria história e de seus projetos.

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A cada um desses elementos, não podemos deixar de acrescentar a personalidade, isto é, a pessoa e seu contexto. Todos somos influenciados pelo ambiente em que vivemos: o contexto da família e da cultura em que a vida do casal vai se desenrolar, bem como o desenvolvimento econômico, cultural e institucional, os hábitos e costumes, podem afetar a relação tanto positiva quanto negativamente.

É uma falha ignorar as histórias que o companheiro leva para a relação, pois isso poderá trazer “distorções cognitivas”, como por exemplo, interpretar um fato separado de seu contexto, modificando o sentido dele; tentar adivinhar o que o outro está pensando partindo de seu próprio ponto de vista ou interesse, deixando de considerar o outro; ou chegar a conclusões baseando-se em posturas rígidas e radicais, ou preconceitos.

 

Resumindo o amor:

A construção do amor para com uma outra pessoa dependerá de diversos fatores, alguns intrínsecos a nossa personalidade e história de vida e outros externos, relativos à vida do outro e à sociedade. Assim, os 12 componentes do amor são: atração mútua, desejo, conveniência, vínculo, intimidade, fusão, valores, afeto, maturidade, compromisso, projeto e personalidade. Quando todos estes elementos estão presentes, com certeza, há amor! Quando falta algo, é necessário refletir e ver a possibilidade e necessidade de construir algo bom para você e para o outro.

 

Referência bibliográfica:

GARCÍA VEGA, Luís. El vínculo emocional: crisis y divorcio. Valencia: Promolivro, 2001.

 

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Iracema Cerdan Zavaleta Galves é psicóloga, pedagoga e mestre em Psicologia da Educação. Atualmente, trabalha como psicóloga clínica no interior paulista. Contato: iracema.cerdan@gmail.com